2020 foi um ano de mudança. Um ano que se desenrolou de forma inesperada e em que, por várias vezes, a realidade ainda nos pareceu mais estranha do que a própria ficção e no qual algo massivo e global começou a acontecer.
Comecemos, então, por introduzir alguns conceitos no âmbito do empreendedorismo - sem nos desviarmos do tema que nos traz aqui - porque parece-nos importante abordar temas como o "mundo" BANI ou a evolução do VUCA, introduzidos por Jamais Cascio, em 2018. Porque ao longo da história da civilização várias situações de crise geraram evolução e, como tal, esta é mais uma e de extrema importância para introduzir o tema.
Já muito se falava nas mudanças climáticas e nos efeitos que estas poderiam ter nos vários quadrantes da nossa realidade. Com a pandemia, estes efeitos ganharam contornos de imediato e, com ela, a nossa perceção da realidade passou de instável a caótica, com resultados completamente imprevisíveis e, até, incompreensíveis.
A robustez desta realidade foi mais do que nunca colocada em causa, tendo mesmo em alguns casos sido estilhaçada, uma vez que a ansiedade decorrente do facto de as nossas escolhas se terem tornado mais complexas do que nunca, fez com que estas parecessem sempre más por muito ponderadas que fossem. Por consequência, acabam por acarretar um grande potencial de desastre, que cria a sensação de estarmos sempre à espera da próxima adversidade que vai surgir, antes de qualquer outra coisa.
Os nossos dias passaram, ainda, a ser muito pouco lineares. Deixou de existir uma relação entre causa-efeito, algo que é ilustrado por aquilo que é o “achatamento da curva pandémica” ou o controlo dos efeitos das mudanças climáticas, uma vez que não é por hoje termos uma determinada atitude que algo vai ser alterado amanhã, num curto prazo ou, mesmo, ficar definido.
Os nossos dias passaram, também, a ser incompreensíveis. Dias que vivemos na Era da Informação, da “Big Data”, dias onde por vezes o acesso à informação é tão fácil que ficamos de tal modo assoberbados que caímos inertes quando se torna impossível distinguir o que é “ruído” do que é “sinal".
É por isto que se torna necessário, nos vários quadrantes das nossas vidas, que vivamos com capacidade e resiliência, para que consigamos seguir em frente, fazendo novo e diferente para que não fiquemos reféns de fazer “o que sempre funcionou, fazendo da mesma forma”.
Precisamos mais do que nunca de ser empáticos, de não deixar ninguém só e de fazer o nosso próximo sentir-se valorizado e confiante. Temos ainda de compreender melhor do que nunca os contextos em que as (nossas) Pessoas estão envolvidas e desenvolver (e potenciar esse desenvolvimento) a rápida adaptabilidade aos desafios que vão surgindo. Temos, ainda, de ser cada vez mais transparentes, no sentido de desenvolver a confiança e trazer à superfície a capacidade intuitiva que tantas vezes fazia (e faz) a diferença, nesta fase onde todos os nossos sistemas estão a mudar, por vezes até de um modo doloroso, e que pede sobretudo novas formas de pensamento.
Todos estes acontecimentos fizeram com que o ano de 2020 passasse a contar com 60 meses. Longos meses de angústia e indecisão, mas que trouxeram igualmente transformações positivas que vieram para ficar. Falamos, portanto, de oportunidades.
2020 foi o ano da definitiva transformação digital, muito por culpa da necessidade de recurso ao teletrabalho, e da revolução do design organizacional. Obrigou à transformação das competências de liderança, o que fez com que surgisse um maior foco no trabalho, de um modo mais transparente, com uma maior preocupação com o bem-estar das equipas e o desenvolvimento da adaptabilidade da força de trabalho onde o espaço “office” em alguns casos começou mesmo a surgir na imagem de quase espaço de convívio.
Do lado dos profissionais de Recursos Humanos, 2020 foi também disruptivo, já que obrigou a mudanças na cultura organizacional e a uma requalificação dos profissionais do setor. Hoje, um Business Partner de Recursos Humanos tem de ser exatamente isso: um parceiro cada vez mais consultivo e com uma voz ativa no destino da organização e não apenas alguém que faz parte de uma estrutura de suporte à atividade. Tem de ser alguém ágil e cada vez mais lesto nas respostas que os desafios diários que se levantam lhe pedem, além de deverem, cada vez mais, de ser líderes e dar o exemplo, ao mesmo tempo que se preocupam com o bem-estar e a saúde mental dos seus Colaboradores.
Nesta realidade, em que o trabalho remoto quebra barreiras geográficas e torna o Employer Branding num tema cada vez mais relevante para a captação de talento, e já que esta globalização leva à inflação salarial em determinados setores (que conduzirão necessariamente à revisão de modalidades contratuais, numa era em que os próprios candidatos serão cada vez mais exigentes face aos empregadores), urge então recorrer a uma personalização do "mundo" do trabalho em que, como em qualquer outra situação, o candidato escolhe o seu próximo projeto profissional.